Evoluir e adaptar: aspectos psicológicos do isolamento social

 

 

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Médica Psiquiatra, Dra Carolina Pereira Mota

 

Não é a primeira vez que a humanidade enfrenta as consequências de doenças infecciosas que atingem proporções continentais. Lidamos com os riscos de um mundo globalizado, em que estamos conectados fisicamente e virtualmente a diferentes partes do globo terrestre.

O ser humano já enfrentou epidemias antes - causadas por vírus, bactérias e outros patógenos. Hoje, estamos vivendo uma pandemia por COVID-19, porém em um passado recente enfrentamos outros tipos de Coronavírus, o SARS-CoV-1 em 2002 (primeiros casos na China) e o MERS-CoV em 2012 (primeiros casos no Oriente Médio).

O mundo enfrenta um vírus novo, com alto potencial de disseminação e contágio. Lidamos com o desconhecido, munidos da ciência que avança a passos largos na identificação de medidas eficazes contra este novo patógeno. Em meio a tantas incertezas o que se sabe é que, neste momento, o distanciamento social é primordial, afim de reduzir a velocidade de propagação viral e impedir que muitos doentes necessitem de atendimento hospitalar, sobrecarregando assim o nosso já sobrecarregado sistema público de saúde.

É hora de união, as atitudes individuais podem modificar o curso de um potencial desastre para a humanidade. No Brasil, convivemos com várias doenças endêmicas, somos familiarizados com a Dengue, Zika, AIDS, Tuberculose, Febre Amarela, Hanseníase e gripes (vírus Influenza). A mensagem aqui é: nós, brasileiros, sabemos como passar por este momento!

Frente a uma ameaça real, que é a situação pandêmica causada pelo Coronavírus, e as dúvidas geradas por esta nova realidade, é natural que sentimentos como medo, angústia, raiva e desesperança despontem. A epidemia se reflete em pensamentos, comportamentos e respostas emocionais; este cenário é propício para o surgimento de doenças psiquiátricas, bem como, agudização de transtornos mentais prévios. A angústia pode ser amplificada por falta de clareza nas informações e na comunicação, comuns nos períodos iniciais de uma epidemia.

Segundo Huremovic (2019), os aspectos psicológicos do surto têm núcleos de desinformação, alimentam-se da incerteza, aumentam as dúvidas à medida que incubam no sistema límbico e, depois, através de vetores de mídia e comunicação, explodem em forma de pânico individual ou de massa. Soma-se aos efeitos diretos da pandemia, o isolamento social, que é, do ponto de vista psíquico, um potencial gatilho para complicações psiquiátricas. É importante frisar que o interlocutor que vos fala não é contra o isolamento, ao contrário, este se faz necessário, porém seus efeitos nocivos podem ser atenuados com algumas medidas:

Dicas para promoção de saúde mental em tempos de isolamento social:

  • Criar uma nova rotina (nada de ficar o dia todo de pijamas!)
  • Manter comunicação com amigos e familiares (telefone, redes sociais, internet)
  • Manter uma alimentação saudável
  • Praticar exercícios físicos
  • Evitar exposição excessiva às notícias (se for importante para você, escolha apenas em telejornal para assistir)
  • Pensamento positivo: o isolamento é necessário, mas não definitivo
  • Seja solidário e empático, tente fazer algo pelo próximo

Cuidados específicos com idosos e pessoas com transtorno mental em isolamento social:

       1 - Demonstrar empatia e afeto

2 - Ser solidário, auxiliar nas atividades essenciais, como por exemplo, ir ao supermercado ou à farmácia

3 - Manter comunicação contínua, virtualmente, através de ligações telefônicas ou internet

4 - Observar sinais de depressão (perda de interesse em atividades antes prazerosas, desinteresse pela vida, tristeza, perda do apetite, insônia ou aumento da necessidade de sono), identificar comportamento suicida e delirium (confusão mental ou piora da confusão mental, alteração do ciclo sono-vigília, agitação episódica)

5 - Estimular a prática de atividade física

6 - Garantir a disponibilidade das medicações de uso contínuo, criando formas que facilitem o uso correto (por exemplo utilizando-se de placas informativas).

7- Para os idosos: manter o idoso orientado, abrindo janelas e deixando um relógio à vista ou atualizando pelo telefone, hora, dia, ano e mês. Estimular a hidratação.

Fato é, o que estamos vivendo não é algo novo para o ser humano, porém enquanto humanidade precisamos reaprender a viver neste novo mundo, nos fortificar e adaptar.

O CAPS tem como principal objetivo a promoção de saúde mental, que engloba em primeira instância o bem-estar psíquico, que não significa somente ausência de doença.

O foco do serviço é o tratamento de transtorno mentais graves, porém com enfoque na saúde, fornecendo aos usuários ferramentas para resolução de problemas, autonomia e reinserção na sociedade. Neste contexto reforçamos a necessidade de abordar o ser humano de uma forma ampla, promovendo assim o bem-estar físico, psíquico e social.

O que isso significa em tempos de pandemia? Nossa missão continua a mesma, porém com adaptações para acolhermos melhor os indivíduos que nos procuram. O CAPS de Porto Nacional continua aberto, com medidas que protejam os usuários e funcionários, acolhendo para cuidar.

E por último, mas não menos importante, uma mensagem aos que chegaram até aqui: não se cobre tanto, não acompanhe ou siga conteúdos que te façam mal, aproveite este momento para refletir e sonhar com um futuro melhor, você não precisa aprender uma nova língua ou dar aquela guinada em sua carreira, não se sinta mal e acredite, as pessoas não estão fazendo isso, por favor, não se menospreze. Acordar, se arrumar, preparar sua refeição, organizar a casa...são vitórias que podem ser acrescidas de novas tarefas todos os dias, você já é vencedor, estamos vivendo uma situação muito difícil, não seja cruel consigo mesmo.

NÃO SE COBRE TANTO, celebre as pequenas alegrias da vida, escolha ser feliz todos os dias.

 

Médica Psiquiatra – Carolina Pereira Mota, atende de forma permanente no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), Dr. Euvaldo Tomáz, em Porto Nacional